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Moradores de Resistência transformam ponto de lixo em área de lazer e jardim
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Por Nelly Blanco (nebsilvaeira$4h064+pref.vitoria.es.gov.br), com edição de Matheus Thebaldi


Um belo lugar de lazer à beira do mangue. Mesinhas e banquinhos para uma conversa entre amigas, parquinho para as crianças e flores para enfeitar o local. Quem olha a rua José Romão de Mello, em Resistência, não imagina como era o local.
"Precisa ver como era isso aqui. A limpeza era feita de manhã e, à tarde, a beira do mangue já estava cheia de lixo. Moradores e até pessoas que nem moravam aqui despejavam entulho, lixo e animais", lembrou a administradora Maria Alvani Mangelsen.
"Ficávamos sem energia todos os finais de semana. O motivo? Os urubus, que ficavam pendurados aqui nos fios por causa dos pontos de lixo", contou a doméstica Elza Rezende.
O motorista Enídio Barbosa de Oliveira lembrou que a mudança começou com dona Dirlene. "Aqui ficava com até 1,5m de lixo de altura. Era uma nojeira e um trauma para crianças e adultos. Mas isso aconteceu até dona Dirlene ter essa brilhante ideia", contou Enídio, que molha diariamente o jardim feito nos pneus.
Mobilização
Mas quem é dona Dirlene? Ela é uma cabeleireira que trocou a profissão para ser jardineira do bairro, segundo ela mesma afirma. Dirlene Antônia da Silva ficava preocupada com os pontos de lixo na beira-mar. "Aqui era um ponto enorme de lixo. Cheirava muito mal. Todos da rua já haviam pegado dengue. A Prefeitura limpava toda semana esses pontos na beira do mangue, mas não adiantava. Muita gente vinha e jogava lixo. Ficava muito chateada. Então, um dia, eu vi no Facebook de uma amiga um jardim feito com pneus. Mas era um jardim para dentro de casa. Mesmo assim afirmei: 'vou fazer um aqui no meu bairro para as pessoas pararem de jogar lixo'", contou dona Dirlene.
Assim, dona Dirlene entrou em contato com a Secretaria Municipal de Serviços (Semse) para conseguir pneus, pois esses materiais são recolhidos quando estão em meio a entulhos nas ruas da cidade. Além disso, ela conseguiu mudas de plantas e flores e terra junto à Semse. Com os pneus e todo o material em mãos, dona Dirlene acionou vários vizinhos e amigos do bairro para começar o jardim com pneus.
Eles limparam o local, colocaram os pneus e plantaram as mudas. "Nós começamos o jardim, mas eu já explicava para os vizinhos que teríamos de nos impor. Senão, ninguém respeitaria o local. Todo mundo jogava lixo aqui porque era costume. Mas deu certo. Viram que a gente começou a vigiar. E o pessoal parou de trazer lixo para cá. No início, foi difíci, mas continuamos a luta. Fizemos primeiro aqui perto de casa, depois, no maior ponto aqui da rua, e só faltava o ponto dos caranguejeiros e marisqueiros. Mas até lá fizemos o jardim e uns banquinhos, virando o 'Recanto dos Pescadores'", explicou dona Dirnele.


Alunos
"Eu adorei participar da pintura dos pneus. E até lá na Escola Municipal de Ensino Fundamental Rita de Cássia agora estão pintando pneus para fazermos coisas boas. Mas lá será uma horta. Quem está fazendo é meu professor de Geografia", contou a estudante Jeane Filisberto Barbosa, de 13 anos.
"É bom pintar e ver tudo ficando bonito", afirmou o estudante Andrey Murilo da Silva Amparo, de 8 anos. "É muito legal ver tudo isso. Antigamente, a gente não podia brincar aqui. Era lixo puro. E urubu também. E agora está lindo e foi ideia da Dirlene", afirmou a estudante Maria Alice da Silva Santos, de 12 anos.
Os pequenos Winicius Valdemir da Silva Santos e Wesley Junior de Jesus, ambos de 6 anos, também participaram. "Pintar pneu é muito bom e legal", afirmou Winicius. "Eu pintei os pneus de cima e os debaixo também", contou Wesley.
A mãe de Wesley, a doméstica Sibele de Jesus Santos, contou como é bom ver as crianças participando de ações na comunidade. "É muito bom ver as crianças envolvidas pintando os jardins. Elas estão ajudando a arrumar o espaço que é para elas, pois agora tem um parquinho em meio aos pneus".
Sibele se referia ao escorregador e aos três balanços que foram colocados pela Semse no local para apoiar a iniciativa da comunidade. Em meio aos pneus, agora existem jardins e um parquinho. Além disso, os pneus viraram mesinhas e banquinhos também, nos quais a comunidade pode bater papo e até trabalhar.
"Eu faço meus tapetes e almofadas aqui nos banquinhos agora. Ficou um lugar ótimo. Antes, eu só podia ficar em casa e ficava cochilando", relembrou Eva Rosa de Jesus.
Ideia se espalhou
"Dona Dirlene e sua turma começaram e eu animei. Dei continuidade ao trabalho na frente da minha casa. E eu molho e cuido do meu jardim também. Igual ao seu Enídio. Boas ideias se alastram. Mais gente precisa adotar boas ideias na cidade. Aqui, por exemplo, era um lixão. Jogavam de tudo para dentro do mangue e agora não. E espero que nunca mais joguem", torceu o soldador Fabio Ferreira dos Santos.
"Agora, todo mundo coloca lixo no lugar certo. Se alguém vem jogar lixo, explicamos que tem que ser na frente da casa da pessoa, e não aqui na beira do mangue. Se alguém vem jogar móveis, ninguém deixa", contou o motorista Enídio Barbosa de Oliveira.

