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Mucane recebe exposição "Malungas", que discute o corpo afropoético

Publicada em 25/09/2018, às 13h40

Por SEGOV/SUB-COM (secomeira$4h064+pref.vitoria.es.gov.br), com edição de SEGOV/SUB-COM


Divulgação Malungas
Exposição Malungas no Mucane
Trabalho de Castiel, "Quarto de Cura", trata de processos de cura por meio da natureza
Divulgação Malungas
Exposição Malungas no Mucane
Obra "Quarto de Cura" integra a exposição coletiva "Malungas"

O corpo negro e as questões que o atravessam, suas dores, silenciamentos e processos de cura. Esses são alguns dos questionamentos propostos pela exposição coletiva "Malungas", das artistas Castiel Vitorino, Charlene Bicalho e Kika Carvalho. O trabalho abre para o público nesta terça-feira (25), a partir das 19 horas, no Museu Capixaba do Negro “Verônica da Pas” (Mucane).

A mostra, que conta com a curadoria da artista e pesquisadora paulista Rosana Paulino e educativo da professora/artista Kiusam de Oliveira, apresenta trabalhos de corporeidade afropoética dispostos em videoinstalação, fotos, pinturas, esculturas, desenhos e mandingas para tratar de assuntos como racismo e sexismo.

O trabalho em conjunto surgiu a partir do anseio das artistas em apresentar suas produções por meio de uma exposição coletiva.

"Durante formação ministrada pelo artista Daniel Lima (SP), fomos criando uma parceria que se transformou em amizade. Nessa ocasião, percebemos que deveríamos dar continuidade às obras e aos diálogos que iniciamos durante a imersão. Assim surgiu o projeto 'Malungas'", explica Castiel Vitorino.

Divulgação Malungas
Exposição Malungas no Mucane
Kika Carvalho discute a violência contra a mulher na exposição
Divulgação Malungas
Exposição Malungas no Mucane
Kika apresenta um trabalho com 60 peças esculpidas em cerâmica e pintadas em tanino

Trabalhos

"Quarto de Cura", de Castiel Vitorino, demorou um ano para ser construído. O trabalho trata de processos de cura por meio da natureza, trazendo a ancestralidade para o centro da arte contemporânea, e contou com a orientação da benzedeira Yasmin Ferreira.

"Investigo com o meu corpo a complexidade de minha própria existência, que, por sua vez, só existe por conta da coletividade que está inserida. Sou um corpo que experimenta de modo singular os sintomas desse mundo que se/nos adoeceu ao criar o racismo", explicou a artista.

Charlene Bicalho retoma sua pesquisa com a videoinstalação "onde você ancora seus silêncios? #2", em que ela propõe um debate sobre o quanto o racismo tem buscado silenciar os corpos das mulheres negras em nossa sociedade.

"É fundamental que a arte reflita os processos sociais em que é produzida, dessa forma temos a possibilidade de gerar reflexões sobre as opressões e repressões impostas aos corpos negros, lançando um novo olhar capaz de provocar a descolonização do pensamento", explicou a artista, que contou com uma equipe majoritariamente de mulheres negras para a produção do vídeo.

Kika Carvalho discute a violência contra a mulher. Para isso, um dos trabalhos apresentados consiste em uma instalação com 60 peças esculpidas em cerâmica. "A escolha do material veio de uma provocação para unir duas tradições capixabas, a panela de barro e o feminicídio", disse a artista.

O trabalho representa como as mulheres negras têm sido “quebradas” em nossa sociedade. "No país em que 'briga de marido e mulher não se mete a colher' tomou status de uma quase sabedoria popular é muito importante trazer o assunto à tona. Discutir, questionar, denunciar, pensar em políticas públicas, pensar nos processos de educação e formação do sujeito, trabalhar na prevenção e não punição referente à causa. Acredito que a arte é um dos diversos meios de dialogar".

Curadoria

A orientação do trabalho coube a Rosana Paulino, uma das mais importantes artistas brasileiras da atualidade. A residência artística com a profissional, da qual as três artistas tiveram a oportunidade de participar, foi decisiva na produção dos trabalhos.

"Rosana me ajudou a pensar sobre como as ciências da saúde adoecem os corpos negros e de qual forma posso, através da arte, convocar tais campos de saber a repensarem suas relações com os corpos negros. Mas acredito que o aprendizado mais importante que eu tive com a Rosana foi acerca do aquilombamento. Percebi, de modo mais intenso, a necessidade de produzir e fortalecer vínculos entre nós, pessoas negras", contou Castiel.

Para Kika Carvalho, o processo foi para além da construção artística. “Rosana foi um tapa para a realidade. Cheguei até ela com uma proposta colossal, um tanto ingênua. Rosana me fez colocar os pés no chão", disse ela, que complementou: “Foi uma das melhores vivências que fiz por mim para a minha possível carreira artística".

Charlene Bicalho tem opinião semelhante quanto às contribuições da artista. "Acredito que os processos de residência com Rosana Paulino reverberam não somente em minha produção artística, mas também em minha saúde emocional ao poder compartilhar também tantos momentos da vida".

Educativo

Kiusam de Oliveira, artista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo, doutora em Educação e mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo, é a responsável pelo projeto educativo da exposição "Malungas".

Nos próximos quatro sábados ,as formações de professores serão ministradas por Kiusam e as inscrições podem ser feitas online. "A ancestralidade que esculpe corpos a partir da água, da terra, do barro, da folha, do ar e do fogo clama por VOZ que não seja grito, por VIDA que não seja indigna e por CURA dos corpos negros", disse Kiusam de Oliveira.

O projeto educativo também contou com o apoio institucional do Museu de Arte do Espírito Santo (Maes).

Obras

Castiel Vitorino Brasileiro
Quarto de Cura
Instalação
2018

Charlene Bicalho
onde você ancora seus silêncios? #2
Videoinstalação
2018

Kika Carvalho
Efeito dominó
Escultura/instalação
2018

Anatomia da violência #1
Desenho
2018

Anatomia da violência #2
Pintura
2018

Edital

A exposição "Malungas" foi contemplada no edital de seleção de projeto de ocupação do Mucane, ano 2017/2018, categoria I - Exposição Artística, e realizado com recursos do Fundo Municipal de Cultura.

Serviço
Malungas - Exposição de Castiel Vitorino, Charlene Bicalho e Kika Carvalho
Abertura: terça-feira (25), às 19 horas
Visitação: de 26 de setembro a 1 de dezembro. Terça a sexta-feira, das das 13 às 18 horas, e sábado, das 10 às 14 horas.
Onde: Museu Capixaba do Negro "Verônica Pas" – Mucane – avenida República, 121, Centro
Aberto ao público.
Luara Monteiro
Exposição Malungas no Mucane
Charlene Bicalho apresenta a videoinstalação "onde você ancora seus silêncios? #2"
Bruno Gava
Exposição Malungas no Mucane
Artista propõe um debate sobre o quanto o racismo tem buscado silenciar os corpos das mulheres negras em nossa sociedade

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