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Museu Capixaba do Negro completa 27 anos com aula virtual sobre Lei Áurea

Publicada em 13/05/2020, às 12h05 | Atualizada em 13/05/2020, às 16h16

Por Ricardo Aiolfi, com edição de Matheus Thebaldi


  • Redução das desigualdades
  • Paz, justiça e instituições eficazes

Flávio Almeida
Fachada Mucane
Mucane é espaço de resistência e de produção artística e um símbolo da negritude (ampliar)

O Museu Capixaba do Negro (Mucane) completa 27 anos de criação nesta quarta-feira (13). Para marcar a data, o Mucane reforça a importância do debate sobre o dia 13 de maio, reafirmando que não há o que se comemorar neste dia, mas reforçando a desconstrução de uma história única.

No vídeo, a militante do Movimento Negro Unificado (MNU), professora e historiadora Lavínia Coutinho Cardoso aborda a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel em 1888 e explica os motivos do não-reconhecimento da data pelo movimento negro. A aula tem aproximadamente 20 minutos de duração e está disponível no YouTube.

Clique aqui para acessar a aula 

Espaço do Movimento Negro

O grande diferencial do Mucane, equipamento da Secretaria Municipal de Cultura (Semc), é a abertura não só para as linguagens artísticas que dialogam com o movimento negro, mas também as formações, debates, palestras, cursos e oficinas para a discussão da questão racial no Brasil e suas implicações.

A coordenadora do Mucane, Thais Souto Amorim, ressalta o papel do Mucane, que extrapola as questões artísticas e se torna um legítimo espaço de discussão da questão racial em Vitória, no Espírito Santo e no Brasil.

"O Mucane é um espaço referencial para o debate da questão racial. O racismo é estrutural, está em todas as relações da sociedade, por isso, no Museu, não estão contidas apenas as linguagens artísticas. O Mucane é também um espaço de formação de políticas públicas, de debates, palestras, entre outros", destacou.

Thais ressalta ainda a importância do Conselho Gestor do Museu Capixaba do Negro, com atuação fundamental e direta do movimento negro nas atividades do espaço. Hoje compõem o Conselho Gestor do Museu: Instituto Das Pretas, União de Negros Pela Igualdade (Unegro) e Movimento Negro Unificado (MNU).

Conquista

A coordenadora do MNU, Vanda de Souza Vieira, que virou gestora do Museu em 2006, relembra o significado da conquista desse espaço para a sociedade capixaba, em especial a população negra. Ela citou ainda Verônica da Pas, uma das principais impulsionadoras para a criação do Mucane e que hoje dá nome à instituição.

"Não é fácil cumprir toda a burocracia para que um prédio público se torne um equipamento. Manter um museu não pode ser visto como gasto, e sim como investimento na manutenção da memória de uma parcela da população que contribuiu e continua contribuindo para a cidade seja de todos", destacou.

O texto completo de Vanda está disponível no fim desta matéria.

Resistência

O secretário municipal de Cultura, Francisco Grijó, ressaltou a importância do Mucane enquanto resistência política e produção artística, conservando sua essência desde a criação.

"Vida longa ao Mucane! Além de ser um espaço de resistência e de produção artística, um símbolo da negritude, um símbolo da tentativa de fazer deste país um lugar menos desigual. Nós, da Secretaria de Cultura, trabalhamos para que ele sempre cumpra seu papel", afirmou o secretário, que ainda parabenizou o Museu e reforçou o papel do movimento negro na conquista do Museu e das políticas públicas ali desenvolvidas.

Leonardo Silveira
Exposição UJUZI no MUCANE - Museu Capixaba do Negro
Após o isolamento social, o Mucane tem uma exposição e cinco ações de ocupação

Atividades

Atualmente, o Museu Capixaba do Negro (assim como todos os outros espaços culturais de Vitória) está fechado devido à pandemia do coronavírus.

As atividades ocorrem de forma virtual, em especial as aulas das oficinas de violão, capoeira, danças populares e dança afro, cavaquinho, percussão, contação de histórias. Há ainda o Curso de Qualificação Profissional em Dança Afro Brasileira Cênica, que adiou o início do semestre devido à pandemia.

No retorno das atividades, o Mucane tem, aprovadas por edital, uma exposição e cinco ações de ocupação. As atividades podem ser feitas via seleção pública de edital ou por meio do recebimento de propostas de artistas e da sociedade civil.

Ao longo de 2019, o Mucane atendeu cerca de 7 mil pessoas. 

Carta completa da coordenadora do Movimento Negro Unificado, Vanda de Souza Vieira

13 de maio – Abolição inconclusa

O Mucane entrou na minha como gestora em 2006. Um longo caminho foi percorrido para que se transformasse em uma referência positiva para a população negra não apenas de Vitória. O Mucane nos mostra diariamente que a luta vale a pena. Que não devemos desistir, mesmo quando tudo parece que não vai dar certo. Não começou comigo, mas com Verônica da Pas e um grupo de valorosos militantes do movimento capixaba. Uma pena que ela tenha retornado ao Orum e não possa ver seu sonho concretizado. Muitas pessoas se envolveram, militantes, gestores, prefeito. Não é fácil cumprir toda a burocracia para que um prédio público se torne um equipamento.

Manter um museu não pode ser visto como gasto, e sim como investimento na manutenção da memória de uma parcela da população que contribuiu e continua contribuindo para a cidade seja de todos (as).

Dentre as diversas atividades já realizadas no Museu, teve uma exposição criada por Juliana Pessoa “oba: entre deuses e homens” que além de ter sido muito bonita, chamou minha atenção pelo texto de apresentação em seu blog quando ela fala do espaço do museu:

“Desse modo, quando visitamos um museu não estamos aprendendo sobre algo ou sobre uma determinada época, mas sim sobre nós mesmos, sobre nossa condição humana. Por esse motivo um museu é lugar de fortalecimento de laços sociais, de construção de um sentido de comunidade, onde experimentamos nosso pertencimento à história e podemos despertar para a necessidade de sermos, nós mesmos, pontes para o futuro – criadores de um novo amanhã”... Nesse sentido, o Museu Capixaba do Negro “Veronica da Pás” marca a presença da história e da memória dos povos africanos, negros e afrodescendentes. (Disponível em: clique aqui)

É isso que representa o MUCANE; ali sabemos que nossa memória, história será diariamente relembrada mostrando nossa cultura tão desrespeitada por uma parcela que se nega a aceitar nossa contribuição na história desse país, estado e cidade.


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