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Alunos com deficiência visual conhecem a astronomia com as mãos no Planetário
Publicada em 24/09/2014, às 10h14
Por Carmem Tristão, com edição de Matheus Thebaldi
"E vou pintar-lhe sistemas solares nas palmas das suas mãos, para que aprenda o universo inteiro antes de poder dizer; 'Oh, conheço isso como a palma da minha mão'".
Não há nada pintado nas mãos dos nossos personagens, como sugerem os versos da poetisa americana Sarah Kay, mas sim para sempre gravados na memória tátil dos cegos e pessoas com deficiência visual que, nesta segunda-feira (22), participaram do lançamento das sessões inclusivas do Planetário de Vitória.
Antes, apenas o espaço físico era adaptado para receber pessoas com deficiência. Agora, o conteúdo também passa a ser acessível, pois quem não pode enxergar o céu, a partir desse momento, pode senti-lo. Assim, a acessibilidade do conhecimento por meio do toque revela o fantástico mundo da astronomia para muita gente.
A secretária municipal de Educação, Adriana Sperandio, destacou que essa entrega beneficia não só os alunos da rede pública de ensino de Vitória, mas toda a sociedade. "Nós trabalhamos com o impacto da importância de se ofertar e garantir a todos igualdade de condições para o acesso ao conhecimento. Partindo do pressuposto do Planetário, que é popularizar a astronomia e a ciência, já era tempo de proporcionar acessibilidade também de conteúdo a todos os visitantes, e não só aos alunos da nossa rede. Portanto, é com muito orgulho que digo que, a partir de hoje (segunda), terá atendimento garantido todo deficiente visual que comparecer ao Planetário".
"Inaugurar as sessões acessíveis é a conclusão de um desafio. Foi necessário mergulhar num universo que não é nosso, pois precisamos aprender como se enxerga com as mãos para, posteriormente, produzir um material que alcançasse a expectativa de cegos e deficientes visuais. Foram e vão continuar sendo muitos momentos de troca. Porque eu sempre aprendo um pouco mais com os visitantes todas as vezes que vêm aqui conhecer a astronomia", relatou a professora especializada Rosane Corradi Tristão, responsável por adaptar o espaço.
"Incrível"
"É incrível! Eu pude sentir o céu e, agora, o tenho em minhas mãos! Foi fantástico conhecer as várias formas da Lua e de outros astros. Agora sim eu sinto a Astronomia próxima a mim. Pelo toque, pude perceber algumas diferenças entre o que o céu realmente é e os conceitos que eu mesmo tinha estabelecido para mim por ouvir dizer. Achei muito importante a adaptação do material".
Esse é o depoimento do Pedro Henrique Carvalho de Oliveira, de 14 anos, cego, aluno da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Álvaro de Castro Mattos. Agitado, brincalhão e curioso, Pedro Henrique participa das atividades da escola quantas vezes pode, inclusive das peças de teatro e competições de paratletismo da escola.
"É como se o nosso mundo entrasse no mundo deles, guardadas as devidas peculiaridades, não é verdade? É uma felicidade muito grande ver meu filho apalpando e entendendo, por exemplo, o formato e a textura do solo da lua. É uma oportunidade sem tamanho para quem apresenta essa necessidade específica. A iniciativa está de parabéns", contou a mãe de Pedro, Eliamara Carvalho.
"Indescritível"
"É uma sensação indescritível poder participar de uma sessão sem precisar ficar criando imagens daquilo que está sendo falado na áudio-descrição. Eu pude sentir vários elementos por meio do toque, e assim produzir na minha memória imagens reais do que eu ouço falar. Entender o que é o céu ficou muito mais fácil. E o que é melhor: com todo mundo junto na mesma sala", comemorou Leandro Alves, de 16 anos.
Ele estuda com Pedro Henrique e é tão inquieto quanto: movimentando-se para lá e para cá o tempo todo, e sem a ajuda de uma guia, revelou ser também atleta de corrida que todos os anos disputa as olimpíadas escolares paralímpicas.
"A ideia é muito boa. O acesso tátil nos dá uma percepção da dimensão e da proporção dos astros com grande fidelidade", disse João Machado, professor de música da Emef Octacílio Lomba.