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Saldanha será restaurado e vai abrigar Museu da Colonização do Estado

Publicada em 04/12/2018, às 13h43

Por Deyvison Longui (dlbatistaeira$4h064+pref.vitoria.es.gov.br), com edição de Matheus Thebaldi


Diego Alves
doação do saldanha da gama
Solenidade marcou oficialmente a doação da edificação do Saldanha da Gama para o Serviço Social do Comércio no Espírito Santo (Sesc)
Diego Alves
doação do saldanha da gama
Prefeito destacou que a ação é uma marca da gestão compartilhada da PMV e que a restauração do Saldanha vai ao encontro da revitalização do Centro

O pontapé para o início das obras de restauração e implantação do Museu da Colonização e da Imigração do Espírito Santo na antiga sede do Clube de Regatas Saldanha da Gama, no Forte São João, foi dado na manhã desta terça-feira (4), quando o prefeito Luciano Rezende sancionou a lei municipal nº 9.342, que autoriza a desafetação e a doação da edificação ao Serviço Social do Comércio no Espírito Santo (Sesc-ES). 

Com a assinatura da lei, que será publicada no Diário Oficial do Município, o Sesc-ES, órgão ligado à Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Espírito Santo (Fecomércio-ES), poderá implantar no local o museu, além de realizar obras de restauração do histórico imóvel, que foi construído no início do século XVIII para ser uma fortaleza e proteger a ilha de Vitória de invasões estrangeiras.

A solenidade, que aconteceu no pátio externo do próprio Saldanha, contou com a presença do presidente da Fecomércio-ES, José Lino Sepulcri, do superintendente do Sesc-ES, Gutman Uchoa de Mendonça, de parlamentares, secretários municipais, entidades ligadas ao setor de turismo e empresários.

Doação

"Estamos entregando o prédio para a Fecomércio-ES e o Sesc-ES fazerem o que eles realizam de melhor, que é pegar um prédio histórico, recuperá-lo e transformá-lo num centro cultural. O Museu da Colonização vai mostrar a formação da etnia capixaba, que é composta por italianos, alemães, africanos, libaneses, pomeranos, japoneses, portugueses e nativos. Tudo isso documentado em um espaço interativo para que as pessoas possam trazer seus familiares e amigos e se encantarem com a história do Espírito Santo", afirmou o prefeito de Vitória, Luciano Rezende.

O presidente da Fecomércio-ES, José Lino Sepulcri, pontuou o compromisso da entidade para a preservação da história e de realizações culturais. "Faremos deste espaço uma unidade cultural que será de grande importância para a cidade e para nossos visitantes. Tenho certeza que será o cartão de visitas da capital. Vamos olhar essa edificação com muito carinho. Será uma obra de muito orgulho para todos os capixabas".

"O Saldanha da Gama tem uma importância para Vitória como o Convento da Penha tem para Vila Velha. Aceitamos a parceria e vamos restaurar e colocar o espaço para funcionar como centro cultural, recebendo o Museu da Colonização e da Imigração do Espírito Santo", completou o superintendente do Sesc-ES, Gutman Uchoa de Mendonça.

Gestão compartilhada

"Essa foi uma ação de gestão compartilhada e que contou com muitos parceiros, entre eles, a Câmara Municipal, que deu uma contribuição muito importante para a cidade", disse o prefeito Luciano Rezende.

Ele ainda ressaltou que a Fecomércio-ES e o Sesc-ES vão deixar para a cidade e para a região do Centro um legado sem igual. "O Centro precisa ser revitalizado com cultura, gastronomia e atividades históricas para que o local possa reviver. É assim em todo o mundo. Esse é um esforço de revitalização dos mais importantes".

Mercado da Capixaba

Luciano Rezende adiantou que os trabalhos para a restauração do antigo Mercado da Capixaba já terão início. "Vamos juntos, Prefeitura, Fecomércio-ES e Sesc-ES, achar uma forma de restaurar o Mercado da Capixaba já no próximo ano. Já conversamos com o novo governo estadual, que também tem interesse em entrar nesse esforço", informou.

Diego Alves
doação do saldanha da gama
"Antigo Clube Saldanha da Gama passará a ser um local de valorização da nossa história", disse o presidente da CDV, Leonardo Krohling
Vitor Nogueira
Artesanato do mercado da capixaba
Prefeito adiantou que o Mercado da Capixaba, no Centro, passará por obras de restauração

Atração cultural

Os próximos passos após a doação da edificação são fazer a transferência do imóvel e iniciar a elaboração do projeto de recuperação do imóvel, preservando a sua arquitetura, que é tombada como patrimônio histórico.

"Como uma inovação, estudamos colocar um elevador panorâmico com vista para a baía de Vitória, dando mais atratividade turística ao imóvel, além de espaço para restaurante e atividades culturais. Esperamos que em dois anos as obras propostas estejam concluídas", apontou o presidente da Fecomércio-ES, José Lino Sepulcri.

Turismo e cultura

Para o presidente da Companhia de Desenvolvimento, Inovação e Turismo de Vitória, Leonardo Krohling, trata-se de mais uma opção que vai ajudar a resgatar a história da colonização e imigração do Espírito Santo.

"O antigo Clube Saldanha da Gama passará a ser um local de valorização da nossa história. Estamos na expectativa para ver esse equipamento funcionando e acreditamos que ele vai seguir a linha dos museus mais modernos que a gente tem hoje no Brasil e no mundo, com bastante interatividade e inovação em suas instalações", apontou.

Aquisição

A Prefeitura de Vitória adquiriu a antiga sede do Saldanha em 2006, por R$ 2,1 milhões. A edificação possui 2,5 mil metros quadrados. O clube atualmente funciona em espaço próprio (12 mil metros quadrados) ao lado da edificação, que vai do ginásio até a garagem de remo. A muralha é tombada a nível estadual como de interesse histórico.

Durante a primeira etapa de melhorias realizadas para abrigar, em 2010, a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (Semesp), foram descobertas paredes que podem datar do século XVIII, feitas com conchas, na parte interna do prédio.

História

O Forte São João - atualmente conhecido como Saldanha da Gama - foi construído, no início do século XVIII, para ser uma fortaleza e proteger a ilha de Vitória de invasões estrangeiras. Depois, funcionou como cassino e foi, durante décadas, sede de um tradicional clube de regatas da cidade – o que lhe valeu o nome pelo qual é conhecido até hoje.

Tudo começou em 1592, quando o pirata inglês Thomas Cavendish se aproximou com sua esquadra da ilha de Vitória, depois de um saque bem-sucedido a Santos (SP).

Para se defenderem dos invasores, os habitantes da Vila de Vitória improvisaram, com madeira, pedras e areia, dois fortes na baía: um na base do Morro do Penedo e outro no Morro do Vigia. Depois da expulsão dos piratas, o forte do Penedo foi gradativamente desativado. Já a construção erguida do outro lado da baía foi mantida e deu origem ao Forte São João.

Muralha e canhões

Entre 1678 e 1682, a fortaleza passou por um processo de recuperação, mas foi em 1726, com um projeto do engenheiro Nicolau de Abreu, que o Forte São João foi erguido. A estrutura, com um pavimento, contava também com muralha de proteção, merlões, canhoneiras e 10 canhões. Data de 1767 o registro da primeira planta do forte, feita pelo engenheiro José Antônio Caldas.

Em 1808, o Forte São João foi ampliado, com a construção, ao fundo, de uma área mais alta que as demais. Depois de oito décadas e de muitas batalhas em defesa do território, o forte foi desativado. A edificação e o seu entorno foram vendidos e a área passou a se chamar Chácara do Bispo.

Em 1924, a edificação foi comprada, reformada e ampliada, passando a contar com três andares e uma entrada para o pavimento superior, pela avenida Vitória. A fachada também sofreu grande mudança, ganhando um aspecto eclético. No local iniciaram-se as atividades do Cassino Trianon, que lá funcionou até 1930.

Clube se instala nos anos 30 e transforma uso de prédio

O prédio do antigo Forte São João foi oficialmente comprado pelo Clube de Regatas Saldanha da Gama em 1931. Para empreender mais uma reforma na edificação, em 1934, contratou-se André Carloni, renomado construtor da época. A construção ganhou um passadiço e nova sacada. O salão foi ampliado e a fachada, modificada. Na década de 40, o prédio já contava com cinco pavimentos, incluindo o térreo e as duas torres.

O pátio, que antes abrigava brinquedos, como um carrossel, passou a ser espaço aberto à prática de esportes, festas e solenidades. No local, jogavam-se basquete e futebol e também batizavam-se os barcos de remo, esporte que era orgulho do clube.

Quando foi oficialmente comprado pelo clube, o prédio do antigo Forte São João ainda estava às margens da baía e esportes como o remo, a natação e o polo aquático eram muito praticados pelos atletas do clube.

Uma piscina flutuante era montada na baía com a ajuda de barcos e boias, que demarcavam as margens para a disputa das provas de natação e jogos de pólo aquático.

A intensa prática de esportes levou atletas do clube a se destacarem estadual e nacionalmente. O mais brilhante da história do Saldanha da Gama foi o desportista Wilson Freitas, que, remando, levou a tradição do Saldanha para fora do Espírito Santo. Em sua homenagem, seu nome foi dado ao ginásio que o clube construiu ao lado do antigo forte e seu túmulo foi decorado com a escultura de um barco de remo.

Prédio permanece com o nome Saldanha da Gama

O antigo Forte São João passou a se chamar Clube de Regatas Saldanha da Gama, quando em 1931 começou a abrigar oficialmente a sede social do clube. O nome é uma homenagem ao almirante Luís Filipe Saldanha da Gama, que nasceu em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, em abril de 1846.

Carlos Antolini
Saldanha da Gama reformado em 2010
Sede do Saldanha da Gama vai abrigar o Museu da Colonização e da Imigração do Espírito Santo
Carlos Antolini
Saldanha da Gama reformado em 2010
Histórica edificação, construída no século XIX, conta com 2,5 mil metros quadrados

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