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Da teoria à carteira assinada: pessoas em situação de rua conquistam vagas de emprego
Publicada em 05/11/2024, às 16h45 | Atualizada em 05/11/2024, às 18h14
Por Rosa Blackman (rosa.adrianaeira$4h064+pref.vitoria.es.gov.br), com edição de Andreza Lopes
A frase "abre a porta" que é tema de música religiosa e até sertaneja, também, foi a que ecoava entre os acolhidos dos Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) Centro, da Hospedagem Noturna e dos Centros de Referência da Assistência Social (Cras) que, na última semana, participaram do processo seletivo de uma grande rede de supermercados do Estado.
Dessa vez, 39 pessoas em situação de rua e acompanhadas pelos Cras se sentiram aptas a concorrer a uma das vagas ofertadas pela empresa para o público da Assistência Social. Do total, nove deles foram aprovados. Uma delas foi Elida Christina Hell, que participa de atividades no Centro Pop Centro, localizado em Mário Cypreste. Há dez anos ela estava fora do mercado de trabalho formal, tempo igual em que se encontra em situação de rua. Mas, há dois meses, Elida disse que "a chave virou" e, desde então, tem se dedicado ao processo de superação da condição de rua.
Não precisou nem pedir para que Elida contasse como tem sido essa fase. "Estou na Hospedagem Noturna à noite e, pela manhã, vou para o Centro Pop. Na hospedagem conheci a equipe do Acessuas Trabalho que me deu orientações sobre como me comportar em entrevistas de emprego, sobre possibilidades de trabalho. Tenho até diploma de que participei de todas as palestras. Hoje, estou aqui", falou ela.
Entusiasmada e toda segura de si, Elida disse que no que dependesse dela a vaga de emprego estava garantida. "Eu preciso muito e quero muito também. Preciso para dar uma guinada na vida. Estou preparada para voltar ao mercado de trabalho. Vai ser um divisor de águas. Conseguir uma carteira assinada vai ser uma grande conquista. Assim, vou conseguir sair da condição de pessoa em situação de rua e ter um domicílio", revelou ela. A determinação parece ter garantido sua contratação.
Visivelmente emocionada, Elida disse que ter uma oportunidade seria a chance que ela e muitas pessoas em situação de rua precisam para mostrar seu potencial e o desejo de crescer na vida. "A sociedade discrimina muito. É desafiador estar nessa situação (de rua). A atitude de chamar a gente para uma entrevista de emprego é um gesto muito bonito. Em geral, não somos bem-vistos. Temos talentos, temos potencial, mas poucos vêm isso", desabafou Elida.
Outra que estava empolgada era Danieli Silva Pardini, de 29 anos, seis deles entre idas e vindas vividos nas ruas de Vitória. Enquanto aguardava para a entrevista, Danieli disse que estava sonhando com a estabilidade de um emprego e, consequentemente, financeira para realizar o sonho de voltar a cuidar e garantir o sustento das filhas gêmeas, de seis meses de idade. "O emprego é a coisa que me falta para me levantar de vez", afirmou ela. E, depois da entrevista, saiu com a vaga sendo encaminhada para a etapa de efetivação da contratação.
Na mesma positividade estava Hermenegildo Rodrigues, 52, que esta acolhido na Hospedagem Noturna. "Sonhei com este emprego e não quero ficar só como auxiliar de serviços gerais", disse ele. Ao ser questionado sobre o que representaria receber um "sim" do departamento pessoal da empresa, Hermenegildo falou: "significa nova vida, a chance de conseguir ter uma família. Nova oportunidade de conhecer pessoas diferentes. Ter uma vida digna".
Os munícipes em situação de rua foram encaminhados ao feirão de empregos após passarem e concluírem o ciclo de oficinas promovidas pelo programa Acessuas Trabalho de Vitória - serviço vinculado à Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas). As oficinas foram dedicadas à preparação de Currículo; Entrevista de Trabalho e Trabalho; e Direitos Trabalhistas. Os nove aprovados e encaminhados para as vagas foram contratados.
"O caminho até a porta para o emprego foi pavimentado por meio da articulação do Acessuas junto ao Sine e, deste com as empresas cadastradas no serviço", comentou a coordenadora do Acessuas Trabalho Beatriz Souza Oliveira. Para alegria dos trabalhadores do programa, neste processo seletivo, dos 39 que participaram, nove saíram com a carta de encaminhamento.
Para a secretária de Assistência Social de Vitória, Cintya Schulz, com o programa Acessuas Trabalho é possível a identificação de interesses e habilidades dos participantes, atuar para o desenvolvimento dessas habilidades e, consequentemente, oferecer auxílio para inserção no mundo do trabalho seja nas suas mais variadas facetas mas de forma a garantir qualidade de vida dos cidadãos de Vitória que são atendidos no Sistema Único da Assistência Social (Suas).