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Mucane 25 Anos: mistura de ritmos no show do rapper Rincon Sapiência
Publicada em 11/05/2018, às 16h46
Por Leo Vais, com edição de Matheus Thebaldi
Rap, música africana, ciranda, soul e rock. Tudo cabe no caldeirão criativo de Rincon Sapiência, que lançou em 2017 "Galanga Livre", eleito um dos melhores álbuns de 2017 e que apresenta essa mistura de ritmos. O rapper encerra a programação de 25 anos do Mucane neste domingo (13), a partir das 16 horas, na avenida República, no Centro, em frente ao espaço cultural.
"Cheguei nesses ritmos de forma bem natural mesmo. São coisas que apareceram na minha vida no decorrer, né. Eu me conectei muito com a cultura preta, a ideologia preta, do rap e de outras referências, como capoeira, candomblé, umbanda, Chico Science e outras coisas", explicou o músico.
Junto com o álbum, Rincon lançou uma série de clipes, como os recentes "Afro Rep" e "A Volta pra Casa", além de "Ponta de Lança" (verso livre), que tem mais 12 milhões de visualizações. Ele acha fundamental traduzir em imagens suas ideias musicais.
"Eu dependo muito dos vídeos para poder expor meu trabalho porque eu vejo um conjunto mesmo: o aúdio e o visual. É necessário ouvir a minha música, me ver, ver minha identidade visual, com as roupas, com a moda, minha atitude, meu comportamento, minha expressão facial. É uma parada que eu vejo muito associada à minha música. Música e imagem sempre conectadas".
Parcerias
Junto com o disco, nos últimos meses, Rincon lançou uma série de colaborações com artistas associadas ao pop, como IZA e Alice Caymmi, além de nomes da cena alternativa , como Rubel - que ele afirma ter escutado bastante durante o processo de criação de "Galanga Livre" - e outros inusitados, como Sidney Magal.
"É um cara que, por mais que seja de uma outra geração e de um outro ritmo, tem esse lance latino, esse lance percussivo, sensualidade. Ele trabalha com coisas que eu também me identifico muito".
Rincon acredita que essas parcerias são formas de troca, e essa conexão só acrescenta à produção artística. "Acho que a música tem que ser pensada de forma global. Se você entender o rap na sua essência, ele se define como ritmo e poesia. E ritmo a gente pode passar pelos mais diversos lugares. Então, muitas vezes, as coisas parecem desconexas, mas elas estão altamente conectadas. Então, eu sou um cara muito aberto a esse tipo de colaboração".
13 de maio
O show acontece no dia 13 de maio, dia da Abolição da Escravatura. A data vem sendo desconstruída pelos movimentos negros do Brasil.
"A gente não pode se apoiar na Abolição em si e achar que é a melhor coisa do mundo. Os escravos passaram a ser alforriados, mas sem moradia, sem acesso à alimentação e à educação. Foram marginalizados ou continuavam servindo seus senhores ou criavam sociedades em lugares mais distantes, com menos estrutura, e a gente vê o resultado disso na periferia, nas favelas e nos baixos salários que os pretos, na sua maioria, recebem no Brasil. A gente não pode se apoiar só na Abolição, achar que foi uma maravilha, porque, historicamente, nos devem muito ainda".
Mucane
O fato de o show acontecer dentro da programação de comemoração dos 25 anos do Mucane, espaço de resistência, memória e valorização da cultura negra, também torna a apresentação ainda mais significativa para o artista.
"Eu acho que o museu ajuda a contar um pouco da nossa história, do que a gente fez, do que a gente construiu também, a gente precisa desse tipo de referência. Acredito que vai ser um encontro muito especial por todos os entornos, por tudo que tem acontecido no Brasil e no mundo acerca de questões raciais. Poder celebrar nesse museu e nessa data é ainda mais emblemático".